
O relógio marcava 65 minutos quando o Dragão respirou de alívio. Raul Meireles cruzou da esquerda, Lisandro cabeceou para golo e o F.C. Porto libertou a angústia que lhe sufocava o peito. A segunda parte já levava vinte minutos e não augurava nada de bom. A equipa parecia cair de produção e com isso alimentava os fantasmas recentes.
Há mais de mês e meio, aliás, que o recinto portista não via uma vitória do campeão. O que é tempo suficiente para tornar qualquer um impaciente. É certo que o V. Guimarães não chegara sequer a fazer cócegas, mas o problema nunca esteve nos adversários. Esteve no próprio F.C. Porto. Muitas das vezes o maior adversário dele mesmo.
Depois desse golo, sim, a equipa recuperou a força que mostrara na primeira parte. O medo dos últimos jogos caseiros estava ultrapassado e os jogadores podiam sentir-se confortáveis. Como nunca, aliás. A metade inaugural foi toda deles, é verdade, em um minuto e onze segundos rematou duas vezes, mas faltou sempre alguma tranquilidade.
Há dúvidas? Então veja-se: em ambas as ocasiões obrigou Nilson a aplicar-se, depois disso só voltou a consegui-lo numa ocasião de Rodriguez que isolado atirou contra o guarda-redes. Não marcou, mas merecia. O extremo fez esta noite uma das melhores exibições pelo F.C. Porto. Sempre em jogo, sempre em velocidade, sempre na raça.
De resto, e ainda na primeira parte, o F.C. Porto dominou, carregou, correu, rematou, mas faltou-lhe sempre qualquer coisa na hora da definição. Faltou-lhe confiança, lá está. Mesmo assim o resultado ao intervalo era injusto. O V. Guimarães só chegara à baliza de Hélton em jogadas de bola parada: falar dos remates disparatados não vale.
Na segunda parte, pelo menos no início, caiu um pouco. A entrada de Farias, ao intervalo, tirou a dinâmica que até então abrira espaços. Com um elemento fixo no centro do ataque, a defesa do V. Guimarães preocupava-se menos com a movimentação de Lisandro, agora preso junto à linha direita e as marcações bem mais fáceis.
Número 50, número 50, número 100: bingo!
Valeu o golo de Lisandro, na sequência de uma jogada de insistência, para a alterar tudo. Tudo mesmo. O avançado marcou o golo 50 pelos azuis e brancos, um golo fundamental numa altura em que a equipa estava obrigada a ganhar. A partir daí nada foi igual. O V. Guimarães abriu espaços, o F.C. Porto tranquilizou-se e carimbou o triunfo por Farias
Enfim, a vitória era oficial. Falar da vitória mais saborosa da época é exagero, mas anda lá perto. Nada como uma boa zanga para motivar a revolta. O Dragão cobriu-se de azul como há muito não fazia e deve ter sido para vingar o desentendimento de velhos compadres. No final até se ouviu o hino da Champions. Só para não ficarem dúvidas.
Resta fazer um apontamento estatístico. Jesualdo celebrou o jogo 100 à frente do F.C. Porto com a 50ª vitória. Dois números redondos, a acrescentar ao número redondo de Lisandro, que justificam o bingo.







