Lucho "Cheguei à conclusão de que o melhor era ficar"


Na primeira grande entrevista depois de ter renovado o contrato, o médio revela uma conversa com a SAD que o fez mudar de opinião quanto à vontade de sair. Garante estar muito feliz no FC Porto e que nunca imitaria Paulo Assunção na rescisão unilateral. Outra coisa: não gosta que lhe chamem "El Comandante" e explica porquê. Sem fintar os assuntos mais delicados, incluindo Quaresma, reclama reconhecimento pela conquista do tricampeonato, garantindo que, no Dragão, há vida para além do extremo. O campeonato é o grande objectivo da época porque é "preciso assegurar a única vaga directa na próxima Champions", prova em que espera melhorar a performance anterior, mesmo considerando o grupo muito difícil. Tem a palavra o maestro do FC Porto. Clique para continuar a ler...

O que foi preciso o FC Porto fazer para o convencer a ficar, depois de ter dito publicamente que gostaria de experimentar outro campeonato?
Nada. Desde o primeiro momento, defendi que o clube e as pessoas me trataram muito bem. Senti sempre muito carinho aqui. Disse que pensava ter chegado o momento de sair, mas, depois, conversei com os dirigentes da SAD e cheguei à conclusão que o melhor era continuar. E estou muito contente.

Mas tinha ou não clubes interessados?
Sim, embora nada de oficial ao ponto de ter que chegar à SAD e dizer sim ou não.

Os treinadores do Villarreal e do Atlético de Madrid, pelo menos, admitiram o interesse publicamente…
É verdade e é um orgulho ouvir os elogios dessas pessoas que treinam grandes clubes; saber que gostariam de contar connosco. É sinal de que tenho feito bem o meu trabalho.

A renovação do contrato foi apenas para melhorar o salário ou pode ser entendida como um sinal de que vai ficar mais tempo no FC Porto?
A ideia é essa. As pessoas estão satisfeitas com o meu trabalho e eu também estou feliz. Repito, a ideia é essa, mas nunca se sabe o futuro. O FC Porto fez um esforço para que eu ficasse contente. E estou.

No final da época voltará a tocar no assunto?
Depende de muitas coisas. Neste momento, estou tranquilo e concentrado em fazer ainda melhor do que na época passada para conseguir títulos.

Quaresma também disse que queria sair e saiu. O Lucho ficou. O que foi diferente?
Mesmo durante o campeonato já se falava na vontade de o Quaresma sair e eu nunca o manifestei durante a época. Só nas férias. Cada um tem as suas razões e forma de actuar. Ele ficou feliz por sair e eu feliz por ficar.

Quaresma era um jogador importante no FC Porto, mas nunca foi consensual. Notava-se em alguns jogadores um desconforto com a sua forma de jogar. Nesse sentido, a saída dele é positiva?
Tem pontos positivos e negativos. Ele era um jogador importante, que marcava a diferença. Mas, neste plantel, há jogadores com qualidade suficiente para anular a sua ausência. Há quem possa cumprir, tranquilamente, esse papel.
A equipa funciona sem Quaresma?
Isso já está provado nos dois jogos do campeonato e até na Supertaça. Temos feito bem as coisas.

É verdade que chegou a haver problemas entre o Lucho e o Quaresma?
É normal, num grupo, haver alguns desentendimentos mas são coisas que passam. Estranho seria que não houvesse nada. Sempre fomos um grupo muito unido e continuamos a ser.

O papel do Lucho na equipa ganhou outro protagonismo?
Não. A minha ideia é jogar e o funcionamento que tenho na equipa é o mesmo, com ou sem ele.

Mas, por exemplo, assumiu a marcação das bolas paradas. Está relacionado com a saída do Quaresma?
Sim. Foi uma decisão do técnico. No ano passado era ele o responsável, este ano há vários e acho que estamos mais fortes nesse capítulo. O objectivo é fazer o melhor para a equipa, porque, no futebol actual, as bolas paradas são muito importantes e na pré-época já fizemos alguns golos.

É um dos tais pormenores que podem marcar a diferença na Champions?
Sem dúvida. Uma bola parada pode abrir ou decidir um jogo.

Seria capaz de sair do FC Porto da mesma forma que saiu o Paulo Assunção?
Não gosto de opinar sobre casos particulares.

Por isso mesmo a pergunta tinha mais a ver consigo: seria capaz de rescindir como fez Paulo Assunção?
Não. Ele teve os seus motivos e respeito-o. Os jogadores têm de defender as suas convicções, mas penso que não rescindiria como ele fez, porque, simplesmente, isso não é do meu feitio.

Desde que chegou a Portugal, habituou-se a ver o FC Porto em primeiro no campeonato. Agora não está. Qual é a sensação?
A sensação não é boa, mas também não chega ao ponto de se fazer disso um caso. É o princípio do campeonato, temos um calendário difícil nas primeiras jornadas e era previsível que isto acontecesse.

Conta voltar já na próxima jornada à liderança?
O objectivo é esse, mas estamos no início e o que interessa mesmo é chegar à frente no fim. É óbvio que é preferível dependermos sempre de nós e oxalá que, nas próximas jornadas, isso seja possível. Mas não é nada preocupante. Estamos a começar e a diferença entre as equipas é pouca.

Pelo que já viu, o FC Porto continua a ser o favorito?
Sim, não apenas pelo que se passou até agora, mas também porque somos os campeões, os tricampeões. Ganhámos o último campeonato com uma ampla vantagem e creio que não nos foi dado o reconhecimento que merecíamos. Penso que não fomos tão elogiados como devíamos.

E porquê, sabe?
Não sei. É uma questão de Imprensa. Parece que estão, muitas vezes, à espera de uma derrota ou de um empate para nos caírem em cima. Mas demonstrámos, uma vez mais, que somos fortes e unidos e que seguimos na frente.

É possível voltar a ganhar com 20 pontos de vantagem ou este será um campeonato mais equilibrado?
Parece-me que será mais equilibrado. Os nossos rivais estão um pouco mais fortes.
Na época passada, o FC Porto manteve o onze da anterior, mas agora foi obrigado a mudar algumas peças…
Chegaram muitos reforços, é verdade. Da equipa base, saíram três jogadores muito importantes, mas os que chegaram agora podem substituí-los da melhor forma. Temos um grupo capaz de anular essas ausências.
Quais são as diferenças principais entre esta equipa e a anterior? Pode dizer-se que perdeu criatividade e ganhou consistência?
Talvez. Quando há mudança de jogadores, as equipas passam a ter características diferentes. Saiu o Ricardo [Quaresma], o Zé [Bosingwa] e o Paulo [Assunção], jogadores que eram fundamentais, mas, repito, os reforços estão bem integrados e vão substituí-los bem. A equipa, aos poucos, vai melhorando.
É um FC Porto que joga de forma diferente também…
É verdade. As características dos jogadores que chegaram são diferentes das dos que estavam cá no ano passado. Apenas por isso. Mas, as ideias do treinador são as mesmas: ter uma equipa equilibrada, que saiba o que quer e entre sempre para ganhar.

Olhando às tais características de que fala, esta equipa encaixa melhor no 4x3x3 ou no 4x4x2?
Creio que tem mais soluções para ter mais do que um sistema, inclusive para o poder mudar no decorrer de um jogo. Essa é uma pergunta para o treinador e não para mim. Há mais soluções para o meio-campo e isso é bom, porque dá alternativas.

Que análise faz aos reforços?
Quando chegam jogadores de fora, o nosso dever é integrá-los e isso está cumprido. Parte deles são internacionais, que já demonstraram todo o seu valor, e oxalá façam o mesmo aqui.

Disse uma vez que o Paulo Assunção facilitava a vida aos outros médios. É mais difícil jogar no FC Porto agora?
[risos] Entendíamo-nos muito bem porque jogávamos juntos muito tempo e ele tinha um papel fundamental na equipa, dando muita liberdade a mim e ao Raul. Fala-se muito da saída do Ricardo [Quaresma], mas o Paulo [Assunção] era um jogador-chave.

Há Rodríguez para o lugar de Quaresma e Sapunaru para o de Bosingwa. Mas para trinco ainda não existe uma definição tão óbvia…
São questões técnicas. Os jogadores que jogaram nesse lugar estiveram bem e ele [Jesualdo Ferreira] é que vai decidir.

Ficou aborrecido, admite que rematou mal e que errou na escolha do lado quando bateu o penálti na Supertaça Cândido de Oliveia. Lucho reviu "algumas vezes" o momento, mas não fez disso um drama, até porque teve a oportunidade de se redimir duas semanas depois, com o Benfica. "Fiquei muito triste não só por ter falhado, mas por ser numa final e me ter dado a sensação de que, se tivesse convertido, o desenrolar do jogo seria outro", referiu, garantindo que não pensou nesse erro quando partiu para a bola no Estádio da Luz. "Estava concentrado e já sabia para que lado ia rematar. É fantástico ter a oportunidade de vingar o falhanço num curto espaço de tempo". Contra o Sporting escolheu o lado esquerdo do guarda-redes e o direito contra o Benfica. Lucho explica: "Na Supertaça, pensei em atirar para esse lado porque andava a rematar muitas vezes para a direita e quis mudar. Infelizmente, fi-lo da pior forma e na pior altura. O penálti não foi bem batido, mas o guarda-redes do Sporting também teve mérito".

O que se passa nos jogos como Sporting?
Nada. São jogos diferentes dos outros por serem clássicos. Infelizmente, temos perdido os últimos confrontos, sobretudo as finais e isso dói ainda mais. Mas também já lhes ganhámos.
Está a chegar nova deslocação a Alvalade…
É muito bonito jogar no estádio deles. Mas falaremos do Sporting quando chegar a semana desse jogo. Nessa altura, trabalharemos duro e analisaremos o que fizemos mal, porque, se perdemos, é porque fizemos alguma coisa de mal.

Há alguma questão psicológica a limitar a equipa?
Não. Se analisarmos esses jogos que perdemos, tivemos sempre muitas situações de golo que não aproveitámos antes de sofrermos. Se tivéssemos marcado, tudo seria diferente. É mais fácil gerir as coisas quando elas estão a nosso favor e nunca tivemos essa hipótese com eles, porque saímos sempre a perder.

E nos jogos a eliminar, qual é o problema?
São partidas decisivas em que sabemos que não podemos cometer erros e que devem ser analisadas a frio. Vamos tentar não repetir isso esta temporada. Muitas vezes, sobretudo nos jogos da Champions, faltou-nos um pouco de sorte, mas não é tudo. Não existe qualquer trauma. Gostamos de actuar nesses jogos e queremos passar as próximas eliminatórias que nos surgirem.

No clássico da Luz, há quem defenda que o FC Porto não foi ofensivo o suficiente para ganhar quando passou a jogar contra dez. Consegue explicar?
Basicamente por duas razões: o Benfica fechou-se mais e nós não encontrámos as melhores soluções. A determinado momento o Benfica pensou o lógico: ao estar com menos um, quis fechar-se, conformando-se com o empate. Também houve alguns erros da nossa parte, mas é preciso lembrar que, do outro lado, há um adversário. E, por vezes, é mais difícil jogar contra dez do que contra onze. Antes da expulsão e deles terem empatado, dispusemos de algumas ocasiões para ampliar o marcador.

Já foi há duas semanas, mas ainda mexe. O apito final de Jorge Sousa não terminou o clássico da Luz, prolongado à custa das imagens televisivas que têm servido para reclamar castigos a jogadores. O Benfica queixou-se de uma alegada agressão de Rodríguez a Nuno Gomes, mas Lucho não faz esse enquadramento do lance e reclama da importância dada às imagens. "São coisas normais que se passam nos relvados e não deviam sair de lá. E não me parece correcto estar a falar de uma coisa que se passou há tanto tempo. Hoje em dia, com todas as imagens e câmaras, as coisas aparecem com dias de atraso e não tem sentido opinar. Qualquer dia não há jogadores para os jogos porque estão castigados por causa das imagens. O mesmo se passa quando se procuram penáltis", sublinhou.
Foi eleito pelo barómetro de O JOGO como o melhor jogador do campeonato. Quer comentar?
É um orgulho. Dá-me forças para continuar a trabalhar e fazer as coisas bem para o clube. Este tipo de distinções é importante, até porque nem todos os que votaram serão adeptos do FC Porto.

Pode dizer que chegou um 8 e que agora é mais um 10?
Pode ser. O meu funcionamento na equipa foi mudando. Quando cheguei tínhamos outro treinador e outro sistema de jogo. Agora, tenho a liberdade para jogar mais no meio.
O bom rendimento na época passada pode ser associado ao facto de não ter ido à selecção?
Não sei. No primeiro ano ia à selecção e as coisas também me saíram bem. É verdade que a recuperação é um tema delicado, as viagens são cansativas e muitas vezes regressamos na véspera dos jogos e é preciso decidir se jogamos ou não.

Do autógrafo de Maradona aos nomes dos filhos e mais umas quantas quase indecifráveis. Até o próprio já perdeu a conta - ou não quis revelar para não ferir susceptibilidades - às tatuagens que adornam o seu corpo. Sabe apenas que são "muitas" e que deve ter mais do que Raul Meireles, o outro amante da decoração corporal no plantel. "É um gosto que temos em comum e falamos muito sobre isso". Um assunto que está na ordem do dia depois de o Real Madrid ter anunciado que pretende controlar as tatuagens dos seus jogadores por considerar que podem ser perigosas para a saúde dos atletas. Lucho discorda, mas compreende a decisão dos merengues. "Não estou a ver o nosso médico a acompanhar-me a fazer uma tatuagem [risos]. Mas não me parece uma má decisão, assim como acredito que fazer tatuagens não interfere no rendimento dos jogadores". Provocação: então e se for contratado pelo Real Madrid, vai continua a fazê-las? "Disso ninguém duvide. É algo de que gosto".
Jesualdo Ferreira colocou o campeonato como a grande prioridade do FC Porto para esta temporada. Em que posição fica a Liga dos Campeões?
Também é um dos nossos objectivos, mas, obviamente, o campeonato é o principal, até porque, para o ano, só há uma vaga directa na Champions. É importante assegurá-la. À margem disso, é evidente que essa é uma prova que todos sonhamos e o objectivo, para já, é superar o que fizemos na época passada, ultrapassando os oitavos-de-final.
Que análise faz ao sorteio e ao grupo?
Muito equilibrado e difícil. São três grandes equipas: já conhecemos o Arsenal; o Dínamo é forte em casa, onde vamos jogar com muito frio; e o Fenerbahçe cresceu muito nos últimos tempos e tem um grande treinador. Vai ser um grupo difícil, mas o FC Porto tem muitas hipóteses de seguir em frente.
Até que ponto é decisivo entrar a vencer contra o Fenerbahçe?
Depende. É importante, mas no ano passado começámos com um empate e terminámos em primeiro no grupo. Será importante para ganhar moral.

Além dessa de ter um grande treinador, que outras ideias tem do Fenerbahçe?
É uma equipa que tem ganho qualidade. Chegou aos quartos- de- final na última Champions e apresentou bom futebol. Nestes poucos dias que faltam, vamos tentar analisar a equipa ao pormenor.

Depois, segue-se nova viagem ao terreno do Arsenal, onde o FC Porto perdeu há duas épocas…
O Arsenal é sempre o Arsenal, mas parece-me que o de 2006/07 era mais forte; tinha jogadores que desequilibravam. Este também terá, mas está numa fase de transição com muitos jovens que não sei se terão muita experiência na Champions e podemos aproveitar isso.

A cotação de Portugal já mudou no seu país?
Sem dúvida. Somos vários e Portugal ganhou outra importância. Fico contente porque os primeiros que chegaram, onde me incluo, fizeram bem as coisas, abrindo as portas aos outros. Os clubes viraram-se mais para esse lado da América do Sul e é sempre bom ter compatriotas por perto.

O tema da visibilidade do campeonato português, que Lisandro tanto se queixava, deixou de fazer sentido
É verdade. Quando há muitos jogadores num país, os argentinos dão outra atenção.

Aimar no Benfica, Lucho no FC Porto. Dois dos três melhores 10 argentinos estão em Portugal?
Não porque não me considero um 10. O Pablo [Aimar] é um excelente jogador, demonstrou-o no Valência, no Saragoça e na selecção. Atravessou um mau momento, com muitas lesões. Deus queira que as coisas lhe corram de feição agora, mas que o FC Porto seja o campeão.

Sendo mais jogador agora do que quando chegou, não é um estranha a ausência da selecção?
Pode ser. A Argentina tem muitos jogadores espalhados por grandes ligas e a jogar a um nível muito alto. Por isso, é difícil não só jogar como fazer parte das convocatórias da selecção. Tenho de continuar a trabalhar bem aqui porque haverá mais oportunidades para mim.
Este ano, pela primeira vez, cumpriu a pré-temporada no FC Porto. Que benefícios lhe trouxe?
Tive mais convívio com os meus companheiros e isso favorece o entrosamento. Fisicamente, sinto-me muito melhor. Terminei estas três partidas muito bem. Espero aguentar.

É um apelido que lhe assenta que nem uma luva, mas a educação que recebeu na Argentina ensinou-o a ser humilde e a partilhar os louros com os companheiros. Afinal, o futebol é um desporto de equipa. Lucho não gosta que lhe chamem "El Comandante". "Dá-me a sensação que sou só eu em campo", justifica. "Somos onze e não sou só eu quem comanda a equipa. Não gosto desse protagonismo. Não posso ganhar os jogos sozinho", acrescenta. A qualidade que espalha nos relvados dá outra ideia e, goste ou não, é ele quem tem o papel de ditar as coordenadas à equipa e empurrá-la para o ataque. Lucho concorda. Com reservas. "Há outros jogadores que fazem o mesmo papel que eu e não são reconhecidos", insistiu

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