O Sporting não estará no Jamor a defender o título de vencedor da Taça. Em Alvalade, os leões caíram frente a um sólido F.C. Porto, nos penalties, depois de um jogo electrizante (5-4, após 1-1 em 120 minutos). O apuramento em Alvalade, depois da vitória em Kiev, vira uma página sombria no percurso recente dos dragões. Mas a noite foi tão empolgante que, mesmo eliminado, o Sporting saiu de cena sob aplausos merecidos.
O primeiro aviso até foi do F.C. Porto, com Hulk, umas das três alterações de Jesualdo em relação a Kiev (Paulo Bento só trocou Grimi por Romagnoli, adaptando Veloso à esquerda), a isolar-se na esquerda e Miguel Veloso a salvar, antecipando-se a Lisandro.
Mas foi o Sporting a embalar para os melhores 45 minutos da temporada. Com Romagnoli a descair para as alas em ritmo de limpa-vidros e combinando bem com Moutinho e Izmailov, os leões descobriam uma intensidade de jogo que há muito não se lhes via. Mais do que isso, resolviam a maior carência do seu sistema de jogo: profundidade nos flancos.
Já depois de duas defesas difíceis de Helton, a remates de Rochemback (20 m) e Postiga (22 m), foi na esquerda que o Sporting cozinhou o golo que lhe deu uma vantagem merecida, contando com a passividade da defesa portista. Um cruzamento de Izmailov foi mal aliviado por Fernando e Pedro Emanuel parou para deixar que Liedson lhe ganhasse posição, para bater Helton de cabeça.
O dragão ficou perto do KO e os amarelos a Bruno Alves e Pedro Emanuel eram sintoma disso. Ficava a sensação de que o Sporting não estava a aproveitar a fase mais intensa do seu domínio. E, no último lance antes do intervalo, Hulk, com uma bomba à malha lateral, lembrava que ainda tinha um papel a desempenhar no filme. E que papel!
Hulk contra o mundo
Com a entrada de Tomás Costa o F.C. Porto passou para 4x4x2 mais compacto. A equipa passou a travar melhor a mobilidade do losango leonino e privilegiou a velocidade dos seus avançados, com Hulk e Lisandro a terem, pouco depois, o apoio de Rodríguez. Depois de Helton negar mais um golo a Moutinho (50 m), a peça entrava no segundo acto.
Hulk tornava-se protagonista solitário. O brasileiro joga um futebol sui generis, com apenas três ingredientes: bola, baliza e adversários. Os companheiros contam pouco, ou nada. Só assim se explica o pique de 60 metros, sempre à frente de Rochemback, ignorando os apelos de Rodríguez antes da bomba indefensável que fixou o empate (58 m).
O Sporting estava em risco de perder o combate com um homem só: Hulk arrancava amarelo a Caneira. Hulk repetia o pique do golo e caía na área, tocado por Polga (63 m). Hulk pressionava Caneira e Patrício e era derrubado sem bola pelo guarda-redes. Na sequência do lance, discutia com Caneira e Bruno Paixão decidia de forma cruel, mostrando amarelo aos dois (67 m) e expulsando o defesa do Sporting sem culpa formada.
O jogo, mais intenso do que nunca, era propício a golpes de teatro: o Sporting parecia afundar-se mas a entrada de Pedro Silva, para equilibrar a defesa, acabou por trazer um segundo fôlego ao leão. E quando Pedro Emanuel viu (bem) o segundo amarelo, as equipas ficavam em igualdade absoluta, até nas reclamações de penalty quando Bruno Paixão, sem qualidade para um jogo tão intenso, fez vista grossa a um corte de Rolando com a mão (87 m).
O prolongamento, tão intenso e emocionante como tudo o resto, acrescentou pouco à história, além da justa expulsão de Hulk, que perdeu os super-poderes numa incompetente simulação de penalty.
Para rematar um grande o filme faltava o terceiro acto, determinado pela sorte e a frieza. Entre duas equipas com mau registo recente nos penalties, foi o Sporting a não escapar à tradição, com Abel a proporcionar a Helton o derradeiro momento de glória que sentenciou a passagem do F.C. Porto. A história de um grande jogo, tão grande que até relegou para segundo plano as muitas decisões erradas de Bruno Paixão, essa já tinha ficado escrita muito antes.

















